Isto não é uma crítica e nem aquilo apenas não é um cachimbo
Resumo
O uso do termo crítica e suas variantes, para se referir a uma variedade de situações reconhecidas no cotidiano, tem uma circulação cada vez maior e com um peso significativo nas mídias sociais. Entretanto há uma tendência em reduzir a crítica a uma ação negativa, uma ação de falar mal de algo. Partindo dessa problemática o objetivo deste texto é propor um exercício de pensamento de modo a traçar algumas características e limites do que vem circulando como uma ação de criticar. Um ensaio de diferenciação no qual elenquei alguns excertos exemplares, que serviram de nexo de condensação de enunciações que escolhi para pensar essa questão e a partir dos quais elaborei quatro categorias de diferenciação que tenho visto serem aglutinadas ao termo crítica: opinião, ataque, crítica de contestação e crítica de análise. Ressalto que considero pensar sobre essas questões um processo educativo, um processo de subjetivação que produz efeitos de estar no mundo. Com isso, penso contribuir para uma pragmática da diferenciação de modo simples e voltada ao que se convive diariamente. A crítica precisa de fundamento, parâmetros e interrogações e as possibilidades para esses elementos são muitas, mas não são qualquer coisa, caso contrário, isto não é uma crítica.
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